Perspectivas para a indústria brasileira do ponto de vista da indústria

As perspectivas para a indústria brasileira nos lembra uma academia que temos aqui perto da nossa sede onde no primeiro andar funciona um salão. No segundo e no terceiro ficam os aparelhos, spinning e etc. Muitas mulheres, que claramente precisavam ir para o segundo e o terceiro andar, preferem ficar bonitas pela via fácil e frequentam apenas a manicure e o cabeleireiro.

Isso nos remete a atual situação do Brasil, onde o país como um todo espera que a atual situação econômica simplesmente suma apenas com esmalte e um penteado novo. A parte que realmente precisamos, o equivalente a ir a academia, nem é cogitada.

Estamos em 2017, mas, o faturamento do setor industrial entrou na máquina do tempo e voltamos ao ano de 2004 como você pode ver no gráfico abaixo fornecido pela Confederação Nacional da Indústria:

 

Grafico de produção industrial e as perspectivas para a indústria

A produção industrial brasileira retorna ao ano de 2004 e as perspectivas para a indústria são de estagnação

 

Com esses números acima, a realidade vai inevitavelmente, bater a sua e a nossa porta. E a realidade é que não vão haver vendas e sobreviver no período atual já é uma grande vitória.

As perspectivas para a indústria na prática

Acima nós temos um número frio, vamos ver agora como isso afeta a vida das pessoas no mundo real com alguns exemplos que nós da Palmetal temos visto:

Entrevistas de candidatos

Tivemos recentemente duas entrevistas muito interessantes. A primeira era de uma mulher de 27 anos que trabalhou a vida toda em um dos grandes bancos. Ela foi funcionária de três agências e falou como o movimento foi caindo e o banco, ato reflexo, foi cortando os funcionários. Ela assegura que a intenção deles é ser um banco com o mínimo de agências e o mínimo de trabalhadores. Ela estava há oito meses desempregada e a única empresa que ligou para ela nesse período fomos nós.

Uma segunda foi mais interessante, pois, ela é engenheira civil formada na USP com experiência comprovada em carteira. Ela trabalhou em torno de 24 meses como engenheira, recebendo o piso, em uma média empresa de projetos de infra-estrutura. Ela disse que já tem amigos de turma dela que entregaram os pontos e foram fazer medicina, pois, mesmo com um canudo purpurinado desses a coisa continua complicada. E não é um caso isolado, pois, sabemos de um outro engenheiro que é formado em engenharia química na UFRJ e trabalha como caixa do Kalunga. O mais engraçado é que há pouco tempo atrás os jornais só falavam do déficit de engenheiros no país.

 

Avaliação dos nossos parceiros

Temos um fornecedor que trabalha conosco há mais de uma década. Ele nos passou que das empresas do nosso ramo no Rio de Janeiro, 70% já fechou e muitas que estão ativas trabalham apenas os donos, sócios, parentes ou no máximo meia dúzia de funcionários. Um outro grande fornecedor nosso que faturava quase 200 milhões por ano e tinha 150 máquinas industriais para venda em estoque, dado o grande giro, entrou em recuperação judicial. O vendedor aqui do Rio que vendia em torno de 4 a 5 grandes máquinas por mês está há um ano sem vender nenhuma.

Na parte de instalação de ar vimos três profissionais do setor. Desses três apenas um continua trabalhando na área. E olha que o Rio é muito quente, mas, mesmo com todo esse calor o ramo de condicionadores de ar está congelado. Dos três o que mais temos intimidade instalava, nas épocas normais, de 10 a 20 máquinas toda semana. Em junho ele instalou uma, para uma funcionária nossa, e em julho nenhuma até agora (dia 18). Os outros dois abandonaram a profissão, sendo que um foi para o Uber e o outro foi trabalhar de segurança em casa noturna para receber R$70 por noite, mas, também foi dispensado. Agora ele está sem nada e voltou para a casa da mãe.

Todas as empresas de material de acabamento, que vendem para empresas como nós, quebraram ou estão bem próximas de quebrar. Um dos vendedores que nos atendia estava há mais de 20 anos na mesma empresa e tinha resistido a todas as crises, mas, essa foi demais para ele e o mesmo teve que deixar a firma, pois, nem estava mais recebendo o dinheiro da gasolina.

 

Avaliação dos nossos clientes

Conversamos esses dias com um cliente que sempre comprava caixas de painel elétrico conosco e fizemos aquela pergunta básica: “E ai? Não compra mais caixas?”. A resposta (ele é o comprador da empresa): “Está mais parado do que saci de patinete. Não estou comprando nada. Vou entrar de férias, pois, não tenho trabalho”. Essa é uma empresa de tratamento de efluentes que sempre comprava caixas de painel elétrico conosco.

Fornecíamos para uma famosa rede de cinemas. Em uma reunião eles nos falaram dos planos de reformar 100 cinemas e lançar mais 100 salas novas pelo Brasil. O plano começou bem com a reforma de seis cinemas e depois entrou no freezer para não sair mais.

Fizemos uma visita a um hospital top de linha e apresentamos um produto encantador as enfermeiras. Elas amaram muito e quiseram experimentar. Nós forneceríamos uma unidade para teste 0800 sem compromisso. Elas avisaram que a época de vacas gordas havia passado e que o hospital estava mais burocrático, mesmo assim, imaginamos que o teste iria acontecer de qualquer forma já que não haveria custos e as usuárias mostraram um interesse muito alto. Em épocas normais esse tipo negócio teria avançado muito rápido, mas, hoje é diferente e a direção do hospital não permitiu nem testar de graça. Nós entendemos que essa decisão foi tomada, pois, se houvesse o teste haveria uma pressão de compra muito forte e a empresa não teria como bancar, ou seja, melhor cortar o “mal” pela raiz e nem testar.

Conversamos em off com uma grande empresa do setor automotivo. Eles ano passado ficaram com uma fábrica 6 meses fechadas e hoje funcionam em 30% do que já funcionaram. Na fábrica do Rio de Janeiro eles fabricavam 200 ônibus por dia, hoje, em um dia bom fabricam 6. E a nossa fonte nos disse que existem fábricas de caminhões no Brasil que esse ano fabricaram em 6 meses apenas 40 veículos.

 

As perspectivas das contas do governo

Temos muitas matérias que falam das contas do governo, mas, resumidamente, o cheque especial de Brasilia esse ano será de R$150bilhões (déficit primário) R$450bilhões (juros) = R$600 bilhões de rombo no orçamento. Só para ter uma referência do que isso significa, o orçamento do ministério da saúde, o maior de todos, é na casa de R$125 bilhões. O metro linha 4 do Rio de Janeiro custou, com propina e tudo, na casa de R$12bi e levou quase uma década para ser construído. Ou seja, o que o governo federal torra em um ano daria para construir 60 linhas de metro.

Ninguém nessa terra pode viver no cheque especial para sempre, nem mesmo o governo federal, por isso o Instituto Fiscal Independente do Senado fez uma projeção que aponta que o Brasil vai quebrar em 2022 que é quando as despesas da união vão bater no novo teto constitucional que impede o aumento de gastos. Você pode ir mais a fundo e entender as consequências disso no vídeo do Rafael Lima.

Gráfico de contas do governo federal e a quebra em 2022

Em 2022 as despesas da união vão atingir o teto

 

Porque as perspectivas para a indústria são nebulosas

Existe apenas duas opções para salvar o país. A primeira é o governo federal gastar menos, o que significa baixar os juros e diminuir o tamanho da máquina governamental, ou seja, mandar funcionários públicos, cargos comissionados, terceirizados, etc. para a rua. Afinal o governo come 40% da riqueza do pais e devolve algo perto do nada. Para devolver nada você não precisa de tanta gente sendo bancada pelo setor privado.

A segunda opção de salvar o país e aumentar arrecadação. E para isso também temos duas sub-opções. A primeira é a mais fácil e mais inviável: aumentar impostos. A segunda é a mais trabalhosa, e por isso mesmo, mais saudável: tirar o peso do estado das costas de quem produz riqueza.

Apesar da micro reforma trabalhista, empreender no Brasil é algo incoerente. Se não for especificamente no setor de serviços, onde você precisa ter um salão de beleza local já que é impossível importar corte de cabelo da China, abrir empresas aqui é uma decisão errada. Tanto é que muitas indústrias estão fechando e indo para o Paraguai.

Como nós não vemos nenhum candidato ou partido majoritário falando para sério em reduzir o estado, acabar com a CLT e criar o imposto único, ou seja, ir a academia para dar musculatura aos negócios, as perspectivas vão continuar nebulosas. Não existe a menor possibilidade de sairmos dessa crise econômica com toda a ineficiência estatal que nós, do setor produtivo, somos obrigados a carregar.

Fazer o Brasil crescer arrastando esse estado gigante e atrapalhador é como dirigir um carro a 100km/h na primeira marcha. É possivel, como aconteceu em 2010, 2011 e 2012, mas, por curto espaço de tempo. Ou você reduz a velocidade ou o seu carro vai quebrar.

Não existe a menor possibilidade de sairmos dessa crise econômica com toda a ineficiência estatal que nós, do setor produtivo, somos obrigados a carregar

A crise que vem de fora

Além de todas as questões internas muitos e muitos analistas que acreditam, e nós também acreditamos, que lá fora haverá uma outra crise nos mesmos moldes de 2008. Nesse link você pode ver a quantidade incrível de lojas fechadas na rua de compras mais top do USA, a Madison Avenue. O USA em específico já vinha muito combalido e agora com um presidente extremamente polêmico o risco aumentou muito. Trump prometeu U$1tri em obras de infraestrutura para tirar o país do atoleiro, mas, na prática, a única coisa que rolou foi um corte no orçamento do ministério do transporte. Você pode ver mais sobre o corte aqui.

Em 2008 o cenário era diferente, pois, o país estava com as contas saudáveis e o super ciclo das commodities estava no auge. Como exemplo podemos pegar o minério de ferro que em 2010 valia U$180 a tonelada e hoje não chega a U$80 e em 2016 beijou os U$40. Como a China, a grande impulsionadora desse mercado vai desacelerar as obras de infra-estrutura, muitos dizem que esses preços vão voltar para as profundezas dos U$40 ou mais lá em baixo ainda.

 

E para nós aqui do baixo clero

Se para Trump e Temer está difícil continuar no emprego, para nós então… Muitas pessoas tentam falar em conselhos para se fazer durante a crise, mas, a verdade é que não tem regras. Essa é uma cruz que cada um deve carregar sozinho, ainda sim, existem algumas coisas que vale a pena ser citada, pois, atendem ao bom senso:

  1. Seja transparente: Nossa sugestão é falar a verdade ao menos para a equipe interna e mostrar os números de vendas. Não resolve, mas, pelo menos passa algum grau de confiança e transmite um sentido de união. É o velho “tamos juntos”.
  2. Ouvir as pessoas: Uma das poucas coisas que envolvem custo baixo é ouvir as pessoas. Ouça principalmente as sugestões de melhorias na operação. De forma alguma você vá implementar tudo, mas, ao menos ouça. O ser humano gosta de ser ouvido.
  3. Dar o exemplo: Não seja como a alta cúpula de Brasilia que continua aumentando os seus salários. Os líderes tem que cortar fora qualquer gasto na vida pessoal. Um exemplo de austeridade vale mais que um milhão de palavras de incentivo.
  4. Seja realista: Não seja otimista nem pessimista. Vamos cair na real que a crise veio para ficar e não vai sumir rápido, mas, nós podemos sobreviver a ela se continuarmos lutando tenazmente.
  5. Pense apenas no dia seguinte: Esqueça as contas do próximo mês, nessa época você só precisa pensar em estar vivo no dia de amanhã.
  6. Continue sonhando alto: Um dia esse momento vai passar, e quem sobreviver a isso vai receber os grandes dividendos. Pensar nessa vitória faz o dia a dia mais aceitável.
  7. É para o seu aprendizado: Entenda que todo esse sofrimento está fazendo de você uma pessoa muito mais capaz, afinal, o que não me mata me deixa mais forte.
  8. Comemore por estar operando: A Petrobrás só não faliu, pois, tem um pais inteiro como fiador, caso contrário, ela já teria ido para o além como foi a EBX. E muitas pessoas acreditam que esse é inevitavelmente o caminho dela a não ser que haja uma guinada radical nesse foco do petróleo. Se até para a maior empresa do Brasil o cenário é 100% nebuloso, porque para a sua empresa não seria?
  9. Continue inovando: Mesmo que de forma limitada, continue com algum projeto de inovação qualquer que seja. Um produto novo, um site novo, um email marketing, refazer o fluxo de processos. Qualquer coisa é válida nessa hora. Em um mercado que todos estão parados ou andando para trás, aqueles que conseguem engatinhar estarão levando uma grande dianteira no dia da ressurreição.
  10. Faça de tudo para segurar as estrelas: Todo time tem o seu Messi. Esse(s) Messi(s) precisam continuar na equipe. O resto pode mandar embora que você substitui fácil, o Messi não!
  11. Continue procurando candidatos: Parece louco, mas, continue anunciando vagas, pois, você pode dar de cara com o seu próximo Messi. Hoje nós temos muitos Messis desempregados e a hora de achar um é agora. Não contrate o “não tem tu vai tu mesmo”, apenas o Messi. E deixe claro para ele a situação da empresa e os planos para o futuro. Agora só há vaga para quem já chega marcando gol. Não podemos carregar peso.

 

Conclusão

As perspectivas para a indústria são tensas no curto e médio prazo. Estamos passando por uma prova de iron man e devemos estar em 40% do caminho. É duro, mas, se você continuar lutando, cedo ou tarde a sua salvação vai chegar, tenha fé.

 

Alezzia
[email protected]

Indústria de móveis de aço inox com sede no Rio de Janeiro

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