01 abr Construção Naval no Brasil – Desafios aos estaleiros
Estamos vivendo um renascimento da outrora iminente indústria naval no Brasil, e nesse renascimento estamos vivendo ainda as dores do parto. Depois dessas dores, provavelmente vamos ter um bebe lindo e saudável.
Algo muito interessante que está acontecendo e fica um pouco longe do grande público é a luta entre importar componentes e comprá-los no mercado nacional. Tudo funcionava bem enquanto o dolar estava cotado na casa dos R$3,00. Os navios são fechados com base na moeda americana, principalmente os navios feitos para armadores no estrangeiro, como os navios feitos pelo Estaleiro Ilha (EISA) para a Ultra Petrol – Bahamas, ou os navios feitos pelo STX para a Norskan – Noruega.
Com o câmbio nessa faixa a importação de equipamentos ficava complexa e a compra no mercado brasileiro muito tranquila, uma vez que um dolar virava três reais aqui na tupinicópolis. Com o salto ornamental que a moeda do USA deu, o jogo virou a favor dos importados.
E esses são alguns dos motivos responsáveis pela virada no jogo:
- O governo assegura isenção de imposto de importação para os estaleiros. De qualquer imposto mesmo. Veja o Artigo 10 da lei 9493 de 1997
- A questão da nacionalização mínima não se aplica a todos os navios, alguns ainda podem ser totalmente importados
- As empresas no exterior são absolutamente especialistas na indústria naval, fazendo negócios com ela há vários anos. Isso proporciona uma boa carteira de pedidos, e por conseguinte, algo que nos falta muito: a escala. Enquanto o nosso maior estaleiro em atividade hoje, o Brasfels (março de 2010) emprega em torno de 8.000 trabalhadores, os grandes estaleiros mundo a fora como: Yantai, STX, Hyundai chegam a ter 90.000 funcionários.
- Só para se ter uma idéia do que isso quer dizer em termos de preço, vamos dar o exemplo da câmara frigorífica. Todo navio tem que ter uma, afinal, é muita gente se alimentando durante muitos dias, uma geladeira side by side não daria conta. No Brasil uma instalação dessas sai pelo preço de R$180.000,00; na coreia ela custa R$60.000,00 e vem com todo tipo de certificações, inclusive certificações que a nacional não possui.
- Fizemos recentemente um orçamento para o STX. Nosso preço: R$119.000 – Preço do concorrente: R$40.000 + R$2.000 de frete. E o material do concorrente nós já vimos e é de ótima qualidade. Sob alguns aspectos até melhor que o nosso pela questão da escala e especificidade. Ele deve fechar uns 10 negócios com estaleiros toda a semana, nós estamos há mais de um ano sem fechar nenhuma venda de vulto para esse setor, e isso pesa muito na questão do preço.
- O frete é muito barato. Segundo o comprador do STX custa R$2.000 reais para mandar um conteiner da Noruega para o Brasil. Ou seja, muito mais barato que um pacotinho básico de carnaval em Salvador.
- Como o lucro dos estaleiros se reduziu muito (1,75% de lucro segundo o mesmo comprador do STX), em alguns casos os navios deram prejuizo, a construção naval brasileira passou a contar cada centavo, largando a questão patriótica para o segundo ou terceiro plano.
Apesar de tudo, novos estaleiros estão sendo construidos no Brasil, a maior parte deles por um motivo que eu acho pouco nobre – o petróleo – que é totalmente poluidor e anti-sustentável. O nosso futuro maior estaleiro do Brasil, o Atlântico Sul, é movido aos petroleiros da Transpetro só para citar um exemplo.
Espero que no futuro tenhamos uma industria naval mais diversificada que produza ou outros tipos de embarcações como: Gaseiros, Navios de Turismo, Rebocadores, Empurradores, Pesqueiros, etc.
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