Construção Naval no Brasil – Desafios aos estaleiros

Estamos vivendo um renascimento da outrora iminente indústria naval no Brasil, e nesse renascimento estamos vivendo ainda as dores do parto. Depois dessas dores, provavelmente vamos ter um bebe lindo e saudável.

Algo muito interessante que está acontecendo e fica um pouco longe do grande público é a luta entre importar componentes e comprá-los no mercado nacional. Tudo funcionava bem enquanto o dolar estava cotado na casa dos R$3,00. Os navios são fechados com base na moeda americana, principalmente os navios feitos para armadores no estrangeiro, como os navios feitos pelo Estaleiro Ilha (EISA) para a Ultra Petrol – Bahamas, ou os navios feitos pelo STX para a Norskan – Noruega.

Com o câmbio nessa faixa a importação de equipamentos ficava complexa e a compra no mercado brasileiro muito tranquila, uma vez que um dolar virava três reais aqui na tupinicópolis. Com o salto ornamental que a moeda do USA deu, o jogo virou a favor dos importados.

E esses são alguns dos motivos responsáveis pela virada no jogo:

  1. O governo assegura isenção de imposto de importação para os estaleiros. De qualquer imposto mesmo. Veja o Artigo 10 da lei 9493 de 1997
  2. A questão da nacionalização mínima não se aplica a todos os navios, alguns ainda podem ser totalmente importados
  3. As empresas no exterior são absolutamente especialistas na indústria naval, fazendo negócios com ela há vários anos.  Isso proporciona uma boa carteira de pedidos, e por conseguinte, algo que nos falta muito: a escala. Enquanto o nosso maior estaleiro em atividade hoje, o Brasfels (março de 2010) emprega em torno de 8.000 trabalhadores, os grandes estaleiros mundo a fora como: Yantai, STX, Hyundai chegam a ter 90.000 funcionários.
    1. Só para se ter uma idéia do que isso quer dizer em termos de preço, vamos dar o exemplo da câmara frigorífica. Todo navio tem que ter uma, afinal, é muita gente se alimentando durante muitos dias, uma geladeira side by side não daria conta. No Brasil uma instalação dessas sai pelo preço de R$180.000,00; na coreia ela custa R$60.000,00 e vem com todo tipo de certificações, inclusive certificações que a nacional não possui.
    2. Fizemos recentemente um orçamento para o STX. Nosso preço: R$119.000 – Preço do concorrente: R$40.000 + R$2.000 de frete. E o material do concorrente nós já vimos e é de ótima qualidade. Sob alguns aspectos até melhor que o nosso pela questão da escala e especificidade. Ele deve fechar uns 10 negócios com estaleiros toda a semana, nós estamos há mais de um ano sem fechar nenhuma venda de vulto para esse setor, e isso pesa muito na questão do preço.
  4. O frete é muito barato. Segundo o comprador do STX custa R$2.000 reais para mandar um conteiner da Noruega para o Brasil. Ou seja, muito mais barato que um pacotinho básico de carnaval em Salvador.
  5. Como o lucro dos estaleiros se reduziu muito (1,75% de lucro segundo o mesmo comprador do STX), em alguns casos os navios deram prejuizo, a construção naval brasileira passou a contar cada centavo, largando a questão patriótica para o segundo ou terceiro plano.

Apesar de tudo, novos estaleiros estão sendo construidos no Brasil, a maior parte deles por um motivo que eu acho pouco nobre – o petróleo – que é totalmente poluidor e anti-sustentável. O nosso futuro maior estaleiro do Brasil, o Atlântico Sul, é movido aos petroleiros da Transpetro só para citar um exemplo.

Espero que no futuro tenhamos uma industria naval mais diversificada que produza ou outros tipos de embarcações como: Gaseiros, Navios de Turismo, Rebocadores, Empurradores, Pesqueiros, etc.

Alexandre do Nascimento
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Palmetal é a empresa fabricante dos móveis em aço inoxidável Alezzia. A empresa foi fundada em 1990 e é a primeira a vender esse tipo de produto diretamente ao consumidor.

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